É urgente o mapeamento de comunidades às margens de rios de “água branca”, alerta pesquisador
O deslizamento de terra na Vila do Arumã no município de Beruri (a 249 km de distância de Manaus), que resultou na morte de duas pessoas, três desaparecidos, dez feridos e pelo menos 200 pessoas desabrigadas, acende o alerta da urgência de mapeamento de áreas de risco em comunidades que moram nas margens dos rios de “água branca”.
É o que diz José Alberto Lima de Carvalho, professor do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e pesquisador dos impactos que as terras caídas causam nos moradores ribeirinhos do Amazonas.
Em entrevista à reportagem de A CRÍTICA, o pesquisador explicou que “terras caídas” é um termo regional amazônico usado indistintamente para designar desbarrancamento de margens.
“[É] Um fenômeno natural responsável pela constante modificação da paisagem ribeirinha do rio Amazonas. Resulta de processos mais simples a altamente complexos e engloba escorregamento, deslizamento, desmoronamento ou desabamento que acontece às vezes em escala quase imperceptível, pontual, recorrente e não raro, catastrófico, afetando em muitos casos distâncias quilométricas”, descreveu o pesquisador.
Caso Vila do Arumã
Para José Alberto Carvalho, a tragédia que aconteceu na Vila do Arumã foi uma combinação da pressão da água do terreno com a água do Igarapé do Arumã.
“No caso do ocorrido na Vila do Arumã, a interpretação que faço a partir de imagem de satélite, é que o deslizamento resultou da ação combinada da pressão da água do pacote sedimentar e da água do Igarapé do Arumã que provocou a saturação do material do vale onde está encaixado o Igarapé do Arumã. Portanto, se trata de movimento de massa causado pela saturação do material do vale”, explicou Carvalho.
José Alberto Lima de Carvalho, professor daUfam e pesquisador dos impactos que as terras caídas causam nos moradores ribeirinhos do Amazonas (Foto: Arquivo Pessoal)
José Alberto Lima de Carvalho, professor daUfam e pesquisador dos impactos que as terras caídas causam nos moradores ribeirinhos do Amazonas (Foto: Arquivo Pessoal)
Vazante influencia
O pesquisador ressaltou ainda que uma vazante acentuada tem grande influência no processo das terras caídas. Pois, segundo José Carvalho, quanto maior for a vazante dos rios, mais alto se torna o barranco de suas margens e com isso aumenta a chamada “força de cisalhamento” – associado a força de gravidade – provocando movimento de massa em muitos casos de grandes proporções.
“Esse tipo de movimento de massa é mais comum durante esse período de vazante, pois não tem relação direta com chuva e sim com a água de percolação do pacote sedimentar e da água que escoa pelo igarapé do Arumã”, destacou o professor de Geografia.
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Previsibilidade
Questionado sobre como os sinais podem servir de alerta para prever possíveis tragédias, o pesquisador apontou dois principais elementos.
“As tragédias com perdas de vidas humanas só não são mais frequentes porque o fenômeno é antecedido por duas manifestações: o aumento de espuma vindo da base do barranco onde está havendo a quebra da estabilidade e pelas rachaduras que acontecem na superfície da margem. Esses dois sinais são bem conhecidos pelos moradores que em tempo conseguem se afastar do local”, pontuou Carvalho.
Entretanto, estes sinais nem sempre estão presentes de forma explícita, como foi o caso da Vila do Arumã.
“Em determinadas situações é possível fazer a previsão, porém, há situação que é muito mais difícil de se prever, como parece ser o caso do ocorrido na Vila do Arumã, em Beruri”, observou o pesquisador.