Nunes descarta desfiles de blocos de SP no feriado de Corpus Christi e sugere nova data: ‘Se for em setembro, está fechado’
O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), descartou nesta segunda-feira (11) a realização do carnaval de rua da cidade no feriado de Corpus Christi, em junho, conforme informação dada à GloboNews pela secretária municipal de Cultura, Aline Torres.
Segundo o prefeito, a gestão municipal trabalha com várias possíveis datas para o evento, mas diz que o ideal para a cidade seria a realização dos cortejos dos blocos de rua no mês de setembro.
Desde sexta-feira (8), a Prefeitura de São Paulo tem enfrentado um impasse com os organizadores de blocos de rua, que em carta pública anunciaram a intenção de realizar os cortejos de rua no feriado prolongado de Tiradentes, entre 21 e 24 de abril.
A gestão municipal afirma que não tem tempo hábil para a organização do evento nessa data e se preocupa com a segurança dos foliões em possíveis desfiles sem aval do poder público.
Quatro secretários municipais fizeram uma reunião no Centro Cultural SP na sexta (8) com as seis entidades que representam 85% dos blocos oficiais da cidade. Eles informaram ao grupo a falta de disponibilidade da gestão municipal em organizar o evento em tempo tão curto e ouviram críticas dos organizadores dos desfiles sobre a falta de diálogo da gestão Nunes sobre o assunto.
Em evento no Centro de São Paulo nesta segunda (11), Nunes reafirmou que o carnaval de rua na cidade só poderá ser feito quando for possível garantir segurança aos foliões.
“A Polícia Militar nos diz que agora para abril eles não têm condição de fazer a remoção ou melhor, a transferência das centenas e milhares de policiais do interior, como sempre ocorre aqui nos grandes eventos, porque eles precisam de mais de 30 dias para organizar isso. Nós não conseguimos lançar o editar para poder ter patrocínio, para poder colocar as grades, tendas para médicos, ambulâncias, como sempre a gente fez”, completou.
Histórico do impasse
O argumento vem sendo sustentado desde a semana passada, quando a prefeitura tentou transferir a responsabilidade da segurança dos desfiles para os organizadores.
Nunes chegou a dizer que o carnaval de rua poderia ocorrer durante o feriado de Tiradentes, desde que os blocos tivessem condições de bancar a infraestrutura e segurança do evento.
A reunião entre os representantes dos blocos e a prefeitura terminou sem acordos na sexta (8) e com protestos contra a atual administração municipal.
No sábado (9), em entrevista à GloboNews, Aline Torres, secretária municipal da Cultura, disse que uma das propostas que deverá ser debatida é a de realizar a festa no feriado de Corpus Christi, em junho.
Blocos querem em abril
Ao ser questionado sobre a possibilidade de carnaval em junho, Zé Cury, presidente do Fórum de Blocos de Rua, afirmou que considera a data ruim porque seria no mesmo período da festa junina, em que vários blocos da cidade já participam de eventos.
“Todo mundo hoje que faz cultura, em junho faz festa junina. Inclusive os blocos, seja em festas fechadas ou na rua mesmo, com barraquinhas, girando a economia local. Não acredito que seja uma data que os blocos vão aderir”, afirmou.
Segundo ele, o ideal seria fazer o carnaval fora de época no segundo semestre. Pedro Anacleto, do coletivo Ocupa, concorda com o argumento.
“A gente acha que junho está muito próximo para todos os blocos se organizarem. A data que estamos sugerindo é mais para o fim do ano, agosto, setembro ou outubro, mesmo que seja próximo da eleição”, disse.
Feriado Tiradentes
Na semana passada, seis entidades que representam a maioria dos blocos paulistanos divulgaram uma carta pública demonstrando o interesse de sair às ruas. Partes dos blocos quer desfilar no feriado de Tiradentes, entre os dias 21 e 24 de abril, quando ocorrem os desfiles das escolas de samba no Anhembi.
Na carta, o grupo afirma que “não há motivos” para que a gestão municipal proíba os cortejos, já que os eventos esportivos, os festivais de música e o carnaval de Sambódromo foram liberados após a queda nas mortes e internações por Covid-19.
O último boletim da Friocruz mostra que os casos de Covid chegaram ao menor valor percentual da pandemia no país.
Fomento
Em janeiro, quando o carnaval de rua foi cancelado, a secretária da Cultura, Aline Torres, prometeu criar um programa de fomento aos blocos.
A ideia do programa é ajudar blocos que precisam de recursos para se manter, após quase dois anos sem as verbas, que eram arrecadadas com apresentações no carnaval e patrocínios que foram cortados ao longo da pandemia.
O programa só saiu do papel neste início de abril, segundo a secretária, porque os blocos precisaram se adequar à burocracia municipal.
A pasta vai contratar ao menos 300 pequenos cortejos de rua para fazer apresentações artísticas na programação dos equipamentos municipais, como centros e casas de cultura e bibliotecas, por exemplo. Eles receberão até R$ 5.700.
“Vamos contratar blocos periféricos que, sem esse fomento, não conseguiriam desfilar. Depois, nossa ideia é aumentar esse número”, explicou Torres.
Falta de diálogo
Os organizadores de bloco reclamaram da falta de diálogo da Secretaria de Cultura e da gestão Ricardo Nunes com os blocos após o cancelamento do carnaval de rua de 2022, anunciado em janeiro pela prefeitura.
Para os organizadores, a Secretaria de Cultura deveria ter procurado os blocos antes da decisão para realizar um adiamento, não um cancelamento definitivo da festa, a exemplo do que aconteceu com a Liga das Escolas de Samba de São Paulo.
“A prefeitura disse o tempo todo durante a reunião que queria dialogar, mas a postura foi sempre de intransigência, sem dar direito à réplica das entidades de blocos de rua que estavam na reunião. Eles simplesmente disseram que não há tempo hábil para organizar o carnaval e querem que a gente assuma toda a responsabilidade pela segurança dos foliões, sem nem mesmo apresentar uma proposta alternativa”, declarou Thaís Haliski, coordenadora da Comissão Feminina do Carnaval de Rua de São Paulo, que participou da reunião.
Blocos não têm condições de organizar desfiles
Conforme o g1 adiantou na última segunda (4), seis entidades que representam cerca de 85% dos blocos de rua do carnaval paulistano emitiram uma carta pública, endereçada à sociedade, falando da intenção deles de desfilarem nas ruas de São Paulo no feriado de Tiradentes.
Na carta, o grupo afirma que “não há motivos” para que a gestão municipal proíba os desfiles, já que os eventos esportivos, os festivais de música e o carnaval de sambódromo na cidade estão liberados.
Uma das representantes do coletivo Arrastão dos Blocos, Lira Alli, entidade signatária do manifesto, disse nesta quarta (6) que os blocos não têm condições de assumir o papel do poder público na organização do evento.
“Acho que a gente tem que tomar cuidado pra não inverter o que é papel da sociedade e qual o papel do estado. A gente, como bloco de carnaval, pode garantir a produção da cultura popular. O que é papel do estado é garantir a estrutura. A gente não tá sendo irresponsável de dizer que vamos colocar blocos de centenas de milhares de pessoas nas ruas. Não é isso. A gente tá falando do nosso direito cultural. Os blocos têm direito à cultura, liberdade artística, de expressão, e também à manifestação pública”, afirmou.