Comandante da garotada, Mauricio Souza exalta Rogério Ceni e vê jovens do Flamengo em evolução
Pelo segundo ano seguido, Mauricio Souza teve o desafio de dar um passo à frente na carreira e comandar um time alternativo do Flamengo no início do Campeonato Carioca. Em 2021 a tarefa tem sido satisfatória, com duas vitórias em dois jogos e nenhum gol sofrido. Para ele, a troca de ideias com Rogério Ceni e a liberdade dada pelo técnico da equipe profissional foram fatores importantes para a execução do projeto.
– Rogério é um ser humano fantástico, tem me dado apoio e força, me deixado bem à vontade. Eu tenho trocado bastante com ele. Ele vem me dando ideias importantes para esse momento, trazendo para mim um conhecimento de anos como atleta. Mas o mais importante foi a forma como ele me recebeu, me deixando muito à vontade para que continuasse tocando o projeto do Carioca, para fazer minhas escolhas. Sem dúvida estou muito feliz, da forma como ele chegou me tratando e me deixando bem livre para poder continuar tocando o projeto – disse Mauricio ao ge.
Nas conversas com Ceni, que antecipou seu retorno das férias e voltou ao trabalho na última segunda-feira, Mauricio vem passando informações dos jovens jogadores do sub-20, mas também coletando ideias de jogo para que possa imprimir à equipe um modelo similar ao que o time profissional utiliza.
O processo, claro, não é simples. É preciso ter jogadores de características similares. O Flamengo de Mauricio, por exemplo, vem jogando num 4-3-3-, com um volante à frente da zaga e dois meias alinhados. O desenho é diferente do utilizado por Ceni, que variou entre o 4-4-2 e o 4-2-3-1 no Brasileiro. Mas as ideias a serem assimiladas pelos atletas são parecidas.
– Nós precisamos de peças parecidas, mas não tenho a menor dúvida que a base tem que se espelhar em como joga o profissional, até para facilitar o trabalho do treinador quando o atleta subir. Esse momento com o Rogério pôde me esclarecer muitas coisas. Claro que eu vejo o time do Flamengo jogar, estou ligado na forma. Mas tem sempre um detalhe ou outro que passa. Esse momento de troca foi muito importante para a gente tentar traduzir isso na prática, de forma mais fidedigna.
– Por exemplo, o Ramon tem vocação muito ofensiva, e o Filipe Luis tem vocação de construir o jogo mais por trás. O Renê é mais equilibrado, consegue ir, mas também tem jogo mais conservador por trás. A gente tem que conseguir equilibrar isso, até para não tolher o jogador daquilo que ele tem de melhor. Conseguir espelhar facilita demais esse momento de transição, porque o atleta já sabe as informações que teria do Rogério, e ficaria mais fácil de lançá-lo.
No próximo domingo, o Flamengo enfrenta o Fluminense no Maracanã, pela terceira rodada do Campeonato Carioca. Será o último jogo do time alternativo rubro-negro. Depois disso, Mauricio Souza entregará novamente o comando.
Confira a entrevista completa com Mauricio Souza:
Nova chance no time profissional
– Não é algo novo, mas é sempre muito gratificante para a gente poder ajudar o clube neste momento. O Rogério teve, merecidamente, este recesso. Eu trato com a maior tranquilidade. Costumo falar que estou cada vez mais me preparando para poder assumir uma equipe profissional, mas entendo muito bem que hoje sou treinador do sub-20 do Flamengo.
Estou aqui de maneira transitória, ajudando o clube, passando informações, podendo ajudar nessa transição dos atletas, na troca com o Rogério. Não vejo isso como última oportunidade, como se tivesse que mostrar tudo que eu sei. Trato com a maior naturalidade possível.
Mauricio Souza na partida entre Flamengo e Nova Iguaçu, pelo Campeonato Carioca — Foto: Marcelo Cortes / Flamengo
Jovens em destaque, como Matheuzinho e Ramon
– São jogadores que entendem o processo, sabem que estão dentro do seu tempo. (Matheuzinho e Ramon) são dois jogadores promissores, que vêm se preparando, entendem o elenco forte que tem o Flamengo, entendem o momento deles. Mas são jogadores que têm ambição, e isso é muito importante. Um dos conselhos que a gente dá na base é para que tenham ambição.
Apesar de o elenco ser muito forte, eles são jogadores do Flamengo, né? A gente entende este momento, sabe que não pode atropelar, atravessar nenhum momento, mas são jogadores que querem o espaço. Acredito que num futuro próximo esses atletas podem ajudar a equipe profissional do Flamengo. Isso vai depender muito mais do Rogério. Creio que o processo de formação continua em cima. Costumo falar que todos eles têm o tempo deles de evolução.
Chance de visibilidade para a base no Carioca
– É o momento demonstrar a base para a torcida, para o Brasil todo. A gente sabe que a vida do treinador do profissional é bem corrida. É o momento que ele tem para enxergar quem são os jogadores que podem compor o elenco dele. É extremamente proveitoso não só para os garotos, mas para o clube.
A gente tem exemplos de vários clubes que têm iniciado os estaduais com equipes sub-23. Creio que é o momento que a gente pode mostrar ao treinador os atletas que temos como expoentes neste momento e que podem figurar nos profissionais quando achar que devem.
Informações para Rogério Ceni
– Nós temos um departamento que cuida das transições, com relatórios etc. Meu papo com o Rogério é mais direto, na mesa, mais frente a frente. O Rogério é um cara extremamente interessado em tudo que está acontecendo no clube. Eu tenho passado para ele características de jogadores que ele ainda não conhece e que está passando a conhecer.
Início discreto de Lázaro
– É um jogador de muita qualidade técnica, e a gente entende que ele pode ocupar mais de uma faixa em campo. O que a gente quer é que ele esteja o mais próximo possível do gol, porque é um jogador que define muito bem as jogadas.
Conversei várias vezes com ele. Ele falou que se sente muito à vontade jogando aberto, vindo para dentro, e também como segundo atacante, atrás do camisa 9. Tem muita qualidade, muito repertório, mas também está no seu tempo de evolução. Entende esse momento, que tem continuar buscando, o que ele fez já ficou, trouxe ele até aqui, mas o que vai levá-lo adiante é o que vai fazer a partir de agora. É um jogador muito consciente, de muita qualidade, que tem tudo para ter um futuro brilhante no Flamengo.
Mauricio Souza Flamengo — Foto: Alexandre Vidal / Flamengo
Chegadas de Michael, Pepê e Hugo Moura
– Eles acrescentam um toque de experiência. Apesar de novos, são jogadores que estão no profissional há muito mais tempo que esses jogadores que estão com a gente. São extremamente talentosos.
O Michael tem uma característica mais de velocidade, de romper linha, de um contra um. Pepê e Hugo são mais controladores, protegem muito bem a bola e fazem o time andar em campo, com consciência de jogo muito grande. Foram meus atletas durante muito tempo, eu os conheço bem.
Com eles, o time sobe muito de produção. Por outro lado, para eles, é a oportunidade de estar jogando. Pepê teve ano difícil, com uma reta final bem melhor, conseguiu atuar mais vezes. Hugo fez um bom ano no Coritiba. Michael não teve muitas oportunidades durante esse ano e é importante esse Carioca para ele resgatar esse espaço.
Para mim acrescenta muito, facilita trabalhar com eles. Para eles, tem essa possibilidade de estarem se mostrando e conquistando espaço dentro do elenco profissional.
Flamengo como formador de treinadores
– O Flamengo nos oferece quase tudo. Uma estrutura de trabalho que poucos clubes no Brasil oferecem. Estou fazendo curso na CBF, e o Flamengo me ajuda a fazer. O Flamengo me possibilita essa integração que estou tendo agora, que nenhum curso iria me dar. O Flamengo se preocupa com isso também.
A gente entende a grandeza e o momento do clube.. O Flamengo trata muito bem os seus profissionais. Para trabalhar no clube também tem que ter muita condição, tem que ser um grande profissional.
Nossa retribuição é tentar nos formar ainda mais para poder fazer um trabalho de excelência. O Flamengo me oferece muita coisa para a minha condição futura.