Por que o Brasil é uma potência paralímpica?

O Brasil é uma potência paralímpica, e isso não se discute. Nas últimas três edições dos Jogos Paralímpicos o país ficou entre os dez primeiros colocados do quadro de medalhas, e essa posição deve ser mantida, até com tranquilidade, no evento de Tóquio, que começa no dia 24 de agosto. Mas por que o Brasil consegue esse lugar de destaque que nunca foi alcançado pelo esporte olímpico?

Responder essa pergunta não é fácil, e muitas coisas devem ser levadas em conta. Desde a menor defasagem histórica com relação aos demais países, passando pela falta de apoio para pessoas com deficiência no Brasil, que acabam vendo no esporte a única saída, e chegando ao alto investimento, organização política e a criação do centro de treinamento de primeiro mundo em São Paulo.

O movimento paralímpico começou a ganhar força nos anos 1950, as Paralimpíadas tiveram a primeira edição em 1960, o Brasil estreou em 1972 e, já nos anos 1980, tinha algum destaque nas medalhas. Ou seja, demorou 20 anos para o Brasil começar, de alguma forma, a dar um valor para o evento. Isso faz com que a defasagem histórica do país seja muito pequena, o Brasil não precisou correr atrás do prejuízo por tantos anos.

Fazendo um paralelo com as Olimpíadas, o Brasil ganhou medalhas a conta-gotas por mais de 80 anos até finalmente começar a se estabelecer, a partir dos anos 1980, como um país que vai ao pódio em uma quantia razoável. É uma defasagem histórica muito maior, ou seja, o Brasil precisou (e ainda precisa) remar muito mais para se estabelecer como um dos principais países do mundo.

O Brasil não é um país muito aberto para pessoas com deficiência, seja ela qual for. São poucas as oportunidades que tem para serem incluídos na sociedade. Então o esporte passa a ser uma, ou talvez a maior opção, para conseguir ter sucesso.

O esporte paralímpico é uma ferramenta de transformação, e o Brasil, dentre muitos problemas, consegue utilizar isso a seu favor no esporte paralímpico. Aqui no Brasil, pessoas com deficiência começam no esporte para serem incluído na sociedade e, muitas vezes, conseguem, já que há mais apoio neste setor do que nos demais.

A Lei Piva, que rege o esporte olímpico do Brasil, também é a principal fonte de renda do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB). Desde 2003 uma parte do dinheiro das Loterias Federais chega à entidade. Não é coincidência que, já no ano seguinte, o país entrou no top 15 quadro de medalhas e, desde 2008, com a quantia já consolidada, a delegação não saiu mais do top 10.

Mais importante que o investimento pontual é a sequência, e já são quase 20 anos com a Lei Piva. Além disso, a partir de 2015, foi criado o Centro de Treinamento Paralímpico, em São Paulo, que é o maior legado esportivo da Rio 2016. São 95 mil metros quadrados com instalações para mais de uma dezena de modalidades. Antes da pandemia, mais de 20 mil pessoas passavam por ano lá, entre treinos e competições.

As Paralimpíadas, por conta da divisão de provas em categorias funcionais, abrem mais espaço para atletas multi-medalhistas. E o Brasil, desde quando começou a entrar no grupo das maiores potências olímpicas, sempre teve um ou dois atletas com diversas medalhas, que elevam o país no quadro de medalhas.

Clodoaldo Silva, por exemplo, levou seis ouros em Atenas 2004. Em Pequim 2008, André Brasil e Daniel Dias conquistaram quatro medalhas de ouro cada. Em Londres 2012, Daniel Dias levou seis títulos e, na Rio 2016, o mesmo Daniel foi ao lugar mais alto do pódio quatro vezes.

Para os Jogos de Tóquio, se Daniel Dias não deve ser esse multi-medalhista dos últimos anos devido as mudanças na classificação funcional de alguns atletas, o Brasil pode ter atletas com várias medalhas na natação. Os destaques podem ser Maria Carolina Santiago, da categoria S12, e Gabriel Bandeira, na S14.

É importante ter atletas que conquistam muitas medalhas, o que faz subir bastante no quadro de medalhas, mas é mais essencial ainda diversificar as possibilidades. Além dos dois carros chefes, que são natação e atletismo, de modalidades que costumam ir ao pódio várias vezes, casos de judô e bocha, e dos coletivos de sucesso como futebol e goalball, o Brasil tem chances reais em mais de uma dezena de esportes.

Paracanoagem, tênis de mesa, ciclismo, halterofilismo, hipismo, remo, vôlei sentado, esgrima em cadeira de rodas e até mesmo os novos esportes, parataekwondo e parabadminton, podem voltar de Tóquio com medalha.

A diversidade de esportes é grande, o que abre um leque muito mais de possibilidades de medalha para o Brasil.

Fonte: GE

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