Presidente em exercício adia Assembleia Geral de Caboclo e gera insatisfação nos bastidores da CBF
Quase três meses depois da decisão do segundo afastamento do ex-presidente da CBF Rogério Caboclo – este por assédio moral contra um funcionário, com punição de mais 21 meses -, ainda não há data marcada para a Assembleia Geral da entidade analisar o caso.
A demora na marcação da data para a votação – que pode ratificar ou não a decisão do Comitê de Ética da CBF – tem provocado dor de cabeça ao presidente interino, Ednaldo Rodrigues. Além de pressão interna em cima de Ednaldo para convocar a Assembleia Geral, a reportagem do ge apurou que a situação pode gerar problemas com o acusado, Rogério Caboclo, que diz a presidentes de federação com os quais ainda mantém contato estar descontente com os adiamentos.
Por outro lado, a demora pode beneficiar o dirigente acusado, que procura se articular juridicamente e politicamente, buscando votos para sua absolvição junto às federações. Caboclo foi procurado por meio de sua assessoria, mas disse que “prefere não comentar nada a respeito e que está aguardando a votação da Assembleia”.
Questionado pela reportagem nesta quinta-feira, Ednaldo Rodrigues disse que a intenção é realizar a Assembleia em fevereiro. Ele vai definir a data na próxima semana, quando retornar ao país após o Mundial de Clubes. De acordo com o presidente interino, a intenção é realizar o encontro com “segurança”, com a participação de todos os presidentes de federações de forma presencial. Segundo ele, uma decisão dessa não pode ser feita numa reunião virtual.
Não é a primeira vez que ele faz previsão de data. Em entrevista ao ge no dia 12 de dezembro do ano passado, na festa de encerramento do Brasileiro, Ednaldo alegou choque de datas com as festas de fim de ano e citou a abertura da Copa São Paulo de Juniores para justificar a postergação da data da Assembleia. Previu para janeiro, “no melhor momento que for possível” a Assembleia Geral “para que todos possam participar, primeiro, da ratificação da punição imposta pela Comissão de Ética e, depois, do processo eletivo”, disse o ex-presidente da Federação Baiana de Futebol.
Em janeiro, com surto da variante Ômicron em todo país – e mais de 100 casos estimados entre funcionários e dirigentes da CBF -, não houve movimento pela convocação da Assembleia Geral.
Ednaldo nos Emirados
Presidente interino da CBF desde 25 de agosto de 2021, ele está em Abu Dhabi para assistir ao Mundial de Clubes. Dentro da CBF, seus pares veem com desconfiança o adiamento da marcação da Assembleia Geral, pois sentem que o cenário é “confortável” para Ednaldo, que poderia seguir presidente até abril, quando a CBF já pode realizar eleições para a escolha do novo presidente (mandato de 2023 até 2026). Comandar uma eleição com a máquina em mãos é um privilégio que aumenta seu poder, avaliam.
Agora em fevereiro, o Mundial de Clubes e a Supercopa são outros obstáculos apontados pelo dirigente para a realização da votação. Pressionado na semana passada, uma data chegou a ser conversada entre o interino e demais vices, o dia 18 deste mês. No entanto, as regras estatutárias exigem que o edital para a reunião seja publicado com oito dias de antecedência, ou seja, nesta quinta-feira. E não houve convocação.
O presidente em exercício da CBF se reuniu na semana passada com Antônio Aquino, vice-presidente da CBF, representante do Acre, o segundo mais velho na hierarquia da entidade. Do encontro participou também Rubens Lopes, presidente da Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro (Ferj). Discutiram o cenário político, o possível adiamento do julgamento e o afastamento definitivo de Caboclo em Assembleia Geral.
Ednaldo avalia o encontro como normal e afirma que conversa com todos os vices regularmente. Mas a aproximação a Rubens Lopes é vista internamente como um movimento político relevante em termos eleitorais.
O que acontece se a Assembleia confirmar a nova suspensão?
Ednaldo é substituído pelo vice mais velho, o coronel Antônio Carlos Nunes, que passa por problemas de saúde relevantes com sucessivos pedidos de licença. Caso ele não possa assumir, o posto é ocupado por Antônio Aquino, o segundo mais velho – este que se reuniu nos últimos dias com Ednaldo. De posse da caneta, o substituto deve convocar, num prazo de até 30 dias, eleições para o término do atual mandato, que vai até abril do ano que vem. Mesmo que se tenha um novo presidente para o período entre 2023 e 2026 (na possibilidade de já ter acontecido uma nova eleição).
É uma espécie de mandato-tampão, com eleição na qual só podem concorrer os oito vice-presidentes e somente os presidentes de federação podem votar. Nenhum deles lançou oficialmente a intenção de disputar, mas Ednaldo já se colocou à disposição e o vice-presidente Gustavo Feijó, ex-presidente da Federação de Alagoas de Futebol, hoje com participação direta dentro da seleção brasileira de Tite, são os dois nomes interessados até o momento.
– Sempre me coloquei como uma pessoa de unidade, de conciliação, de buscar sempre o diálogo. E não vou ser empecilho se entenderem que possa haver uma unidade, mas meu nome continuará sendo colocado por federações e clubes. E não é diferente para os demais colegas – comentou Ednaldo ao ge no fim do ano passado, na única manifestação sobre a eleição até hoje.
Os outros vice-presidentes são Fernando Sarney (Maranhão), Gustavo Feijó (Alagoas), Marcus Vicente (Espírito Santo), Francisco Noveletto (Rio Grande do Sul), Castellar Guimarães (Minas Gerais) e Antônio Aquino Lopes (Acre). Na segunda eleição, a que vai definir o presidente da CBF entre 2023 e 2026, qualquer um pode ser candidato, desde que inscreva sua chapa com o apoio formal de oito federações estaduais e cinco clubes da primeira divisão.
Fonte: GE