O que pode mudar no Twitter com a compra por Elon Musk

A notícia da compra do Twitter por Elon Musk, o homem mais rico do mundo, gerou reações diversas entre usuários e especialistas na última segunda-feira (25). E levantou muitas especulações sobre como será “a era Musk” na rede social.

Analistas ouvidos pelo g1 acreditam que o bilionário enfrentará grandes desafios para concretizar medidas espinhosas que vem sinalizando nos últimos tempos, como:

  • atenuar a moderação de conteúdo;
  • fazer alterações na verificação de perfis;
  • abrir o algoritmo da plataforma.

Por outro lado, entendem que o arrojo de alguém como Musk poderá contribuir para:

  • fazer a rede crescer, se tornar mais rentável e esquentar a briga com rivais;
  • entrar em novos negócios.

A moderação de conteúdo é um dos temas mais polêmicos envolvendo as redes sociais, e não existe consenso.

Há quem defenda que a tarefa de dizer quais posts ou contas ficam e quais são bloqueados ou banidos cabe às plataformas — já que são empresas privadas.

Outros entendem que é preciso haver atuação da Justiça ou de autoridades governamentais junto dessas companhias.

E tem os que acreditam que derrubar posts ou perfis colocaria em risco a liberdade de expressão. Musk parece estar mais perto dessa última turma. “Na dúvida, deixe o discurso, deixe que exista”, disse em recente entrevista para o canal de palestras TED.

Mas o empresário não deu exemplos do que deveria ser mantido ou proibido, na sua opinião, dentro das regras atuais da rede social.

No comunicado da compra, ele ressaltou que “a liberdade de expressão é a base de uma democracia em funcionamento'” e que o Twitter é “a praça da cidade digital onde assuntos vitais para o futuro da humanidade são debatidos”.

“Um dos grandes desafios (de Musk) será obter equilíbrio entre (dar) liberdade de expressão e frear discursos de ódio, a desinformação e as mentiras”, resume Danilo Rothberg, professor e pesquisador de ciências humanas na Universidade Estadual Paulista (Unesp).

A justificativa de oferecer mais liberdade de expressão pode virar um “passe” para usuários cometerem crimes e disseminarem ódio e fake news na plataforma, alertou Flávia Lefèvre Guimarães, advogada especializada em direito digital, quando Musk propôs a compra.

Na mesma entrevista ao TED Talks, Musk chegou a dizer que o Twitter teria de respeitar as leis dos países sobre a liberdade de expressão. Mas reconheceu que resiste ao banimento de usuários, como a plataforma fez com o ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump.

Para Carlos Affonso de Souza, professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade (ITS), uma eventual permissão do retorno de perfis bloqueados à plataforma faria do Twitter uma “caricatura da liberdade de expressão”.

E esse movimento poderia resultar em uma grande perda de usuários, completa Raquel Recuero, pesquisadora em mídia social da Universidade Católica de Pelotas. Pessoas famosas poderiam começar a abandonar a rede social, levando junto consigo muitos de seus seguidores.

Pablo Ortellado, professor de políticas públicas da Universidade de São Paulo (USP), fez análise semelhante em seu perfil nesta segunda-feira.

Ainda quando era uma proposta, a compra do Twitter por Musk dividiu opiniões de usuários e gerou memes. Quando o acordo foi anunciado, a hashtag #RIPTwitter, que faz alusão à expressão em inglês “descanse em paz”, chegou a ficar entre os “trending topics” da rede.

Outra medida sinalizada por Musk tem sido vista como menos controvérsia pelos analistas: uma eventual mudança no funcionamento do selo de verificação.

Para isso, as pessoas teriam que abrir mão dos seus pseudônimos e usar os nomes reais nas contas.

Ainda para deixar o Twitter mais transparente, Musk também tem falado em tornar o seu algoritmo público.

A medida seria uma forma de responder às críticas das pessoas que se preocupam com a confiabilidade do Twitter, diz o professor de Direito e Regulação da Informação da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Nicolo Zingales.

Ainda não está claro como isso aconteceria, já que os algoritmos, que determinam o que os usuários veem no feed, são ferramentas fundamentais no negócio das redes sociais e guardados como um segredo industrial.

Contudo, os especialistas ressaltam que mudanças como essas tendem a acontecer de forma lenta e gradual.

Apesar o bilionário ter dito que não queria comprar o Twitter para fazer dinheiro, o impacto da “era Musk” provavelmente irá além das políticas de uso da plataforma, segundo os especialistas consultados. O homem mais rico do mundo deverá tentar fazer a empresa crescer.

Apesar de ter 16 anos, o Twitter ainda é muito menor do que seus maiores rivais. Pelo dado mais recente, divulgado em 2017, a rede tem 217 milhões de usuários diários e monetizáveis, ou seja, contas que estão aptas a visualizarem anúncios ou produtos pagos da empresa, como assinaturas. Bem aquém dos cerca de 2 bilhões do Facebook, por exemplo.

Isso também se reflete no faturamento. Em 2021, o Twitter teve US$ 5 bilhões de receita, enquanto o Facebook superou os US$ 100 bilhões, destaca Pedro Waengertner, professor de negócios digitais na Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) e fundador da aceleradora e investidora de startups ACE.

Para Waengertner, considerando o perfil arrojado do bilionário, a plataforma deverá aprender a trabalhar com mais produtos, trazendo inovações, conforme visto em outros negócios de Musk, como o robô humanoide da Tesla.

O economista Jason Vieira também espera que o empresário apresente um plano de negócios mais rentável para a plataforma.

Além disso, Vieira acredita que a plataforma terá mais espaço para publicidade, outra forma de ser monetizada.

Mas Carlos Affonso de Souza, da Uerj, lembra que Musk, que já reclamou muito de publicidade nas redes sociais, prefere que o Twitter não seja mais tão dependente disso.

“Vai saber o que isso quer dizer quer dizer. Se ele vai criar uma forma de pagamento para você utilizar o Twitter, se essa rede vai deixar de ser gratuita ou se ele vai só financiar o Twitter junto com outros apoiadores”, diz o professor.

Fonte: G1

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